O
campeonato brasileiro chegou ao fim deixando uma pergunta ecoando nos
corredores dos estádios, nas mesas de bar e até nas conversas de quem nunca
perde um domingo de bola: como foi que chegamos até aqui? O Nordeste,
historicamente vibrante, pulsante e apaixonado pelo futebol, encerra a
temporada com um gosto amargo difícil de disfarçar. E Pernambuco, que um dia
sustentou protagonismos e bravuras, amarga hoje uma ressaca que ainda nem sabe
calcular.
O
Sport, orgulho rubro-negro, conseguiu aquilo que nem o torcedor mais pessimista
ousaria imaginar: protagonizou a pior campanha da sua história, uma queda que
não foi apenas uma derrota esportiva, mas um símbolo da desorganização que vem
corroendo silenciosamente o futebol pernambucano. Foi um rebaixamento que expôs
fragilidades antigas, erros acumulados e, sobretudo, a falta de um projeto
sólido para sustentar a camisa pesada que carrega.
Mas
o problema não se restringiu à Ilha do Retiro. O desastre ganhou contornos
regionais quando Ceará e Fortaleza, forças recentes do Nordeste, acompanharam o
Sport rumo à Série B. Dois clubes que até outro dia desfilavam em competições
internacionais, que projetavam estrutura, gestão e ousadia, agora se veem de
volta ao limbo do caminho árduo. Uma queda tripla que desnorteou até quem
acompanha o futebol com distanciamento analítico.
Para
completar o cenário sombrio, nenhuma equipe nordestina conquistou o acesso.
Enquanto isso, três clubes sulistas e um nortista vão ocupar vaga na elite em
2026, desenhando um retrato que grita desigualdade competitiva — mas também
escancara os erros domésticos que já não podem mais ser varridos para debaixo
do tapete.
É
hora de perguntar — sem floreios, sem meias-palavras — onde foi que o Nordeste
se perdeu? Em que momento deixamos de planejar para apenas reagir? Quando o
improviso virou regra, e o amadorismo se travestiu de normalidade?
O
futebol da nossa região precisa, urgentemente, juntar os cacos. E, mais do que
isso: precisa aprender com eles. Olhar para trás não como quem lambe feridas,
mas como quem revisita acertos, avalia fracassos e se permite reorganizar. O
passado recente mostra que é possível sim fazer diferente — o Fortaleza provou
isso, o Ceará provou, o próprio Sport já mostrou. Mas falta constância, falta
coragem e, principalmente, falta visão.
O
torcedor nordestino, esse que transforma arquibancada em espetáculo e paixão em
identidade, merece mais. Merece voltar a sentir orgulho. Merece ver seus clubes
disputando, crescendo e se impondo.
O
nordestino já se reinventou tantas vezes na vida que não será o futebol a
exceção. Que 2026 seja o ano da reconstrução. Que a queda sirva de aviso — e
não de sentença. Porque o Nordeste sabe ser grande. Só precisa, outra vez,
lembrar como.